sexta-feira, 19 de outubro de 2012

Investimentos privados em biodiversidade


A insuficiência de recursos financeiros aparece sempre como a desculpa número um dos países para justificar a incapacidade de atingirem as metas impostas coletivamente para a conservação e o uso sustentável da biodiversidade.
Com dois dos dez anos que temos para atingir as metas de AICHI já passados, e dado que não há saída no curto prazo para um revigoramento da economia mundial, insistir em condicionar a conservação dos nossos recursos naturais apenas com financiamento governamental, principalmente por doações internacionais, é uma absoluta perda de tempo. Perder tempo no ritmo em que destruímos nossos habitats e dizimamos as espécies que habitam esse mesmo planeta é um luxo que não pode ser suportado.
É por isso que uma ideia aparentemente óbvia vem ganhando cada vez mais espaço nesses fóruns internacionais. É a ideia de transformar por completo o ambiente regulatório (leis, subsídios, incentivos fiscais) para que esse seja um indutor de investimentos em conservação ao invés de inibidor.
Num ambiente ideal, o setor privado têm regras claras e perspectivas concretas de retorno. Só assim estaria disposto a realizar investimentos na escala necessária, complementando o cada vez mais escasso recurso governamental para a tarefa.
Mas assim estamos comoditizando a natureza, dizem uns. Outros, preferem o termo “mercantilização da vida”, e uma solução efetiva transforma-se num debate ideológico do século passado. O setor privado passa então a ser tratado como capitalista desalmado, e não como um indutor de inovação, pesquisa e desenvolvimento. A questão fica ainda mais complexa num mundo onde empresas multinacionais tem como principal acionista o governo de seus países de origem, as SOE (State Owned Enterprises) para usar a termologia em inglês. Desnecessário dizer que as chinesas são as mais representativas.
No Brasil, a região amazônica é muito ilustrativa dessa lógica que inibe investimentos, a não ser investimentos fora do sistema formal da economia que diretamente causam mais desmatamento e perda de Biodiversidade.
Para não fugir do tema da conferência, vejam a questão da Lei de acesso aos recursos genéticos e aos conhecimentos tradicionais associados. No ritmo atual de nossas pesquisas passaremos os próximos 800 anos somente para catalogar as espécies de animais e plantas [ainda existentes] na Amazônia. A lei é na verdade um medida provisória de 2001 e que basicamente trata qualquer pesquisador, da academia ou das empresas, como um potencial biopirata.
Felizmente o governo brasileiro vem reconhecendo que essa é uma questão fundamental para o desenvolvimento sustentável do país. Participei de um debate aqui em Hyderabad promovido pela Iniciativa Brasileira de Negócios e Biodiversidade representando o MEBB , um dos fundadores da iniciativa ao lado o CEBDS, CNI e Instituto Life. O debate contou também com a presença do secretário de biodiversidade e florestas do ministério do meio ambiente.
Ele descreveu o processo ativo de revisão das principais legislações de incentivo à conservação, entre elas: 
  • Novo código florestal: aprovado essa semana e agora contendo um capítulo específico de incentivo à conservação, trazendo a possibilidade de compenações, e definindo créditos de carbono.
  • O processo de revisão do PL 792/2007 sobre pagamentos por serviços ambientais
  • A revisão da MP de acesso aos recursos genéticos e conhecimentos tradicionais para transformá-la numa lei clara, objetiva e que induza investimentos
Cobrei-o por não mencionar a Estratégia Nacional de REDD+, que também está em elaboração, mas nesse caso pela secretaria de mudanças climáticas e qualidade ambiental.
“Essa também” , respondeu o secretario de florestas e biodiversidade, “mas nesse caso não estou autorizado pelo Itamaraty a discutí-la aqui na COP11”, esquivou-se.
Não aproveitar as florestas para juntar as agendas de clima e biodiversidade me parece um erro estratégico grave do nosso ministério de relações exteriores, principalmente no que diz respeito a investimentos na Amazônia. Reconhecer as capacidades de uma iniciativa privada empreendedora e disposta a mobilizar recursos para conservação e redução do desmatamento deve ser tratado como prioridade na pauta de desenvolvimento do Brasil.