quinta-feira, 8 de novembro de 2012

A agenda da Biodiversidade daqui pra frente


O sistema de contabilidade dos países nesse século XXI mudará da medição da produção interna para a medição da riqueza interna. A Biodiversidade será então componente fundamental da nossa riqueza.
Existe uma série de iniciativas em curso procurando uma maneira de contabilizar, por exemplo, o valor das áreas naturais e de seus respectivos serviços ambientais, ou em que extensão os recursos renováveis estão sendo consumidos além da capacidade que os tornam renováveis, e ainda as perdas agrícolas e urbanas causadas por eventos climáticos de maior intensidade e frequência por conta das mudanças do clima. Como exemplo, vejam as consequências, inclusive políticas, do furacão Sandy na costa leste americana.
Somente num sistema de contabilidade dessa natureza é que a biodiversidade, sua conservação e uso sustentável, podem ser levados a sério nas decisões de nossos governantes e empresas. Sem essa nova lógica contábil a destinação de recursos financeiros para essa finalidade, que só é tratada como custo, fica refém da disponibilidade de recursos financeiros gerados pela produção. Num mundo em crise econômica esses recursos desaparecem. Aqui na convenção isso se materializa na forma de diplomacia da revisão dos compromissos ou na interminável construção de indicadores. A implementação, que é chave, fica mais pra frente.
Há duas semanas, na Índia, os representantes dos 193 países signatários da Convenção da Diversidade Biológica avançaram apenas timidamente no compromisso de mobilizar recursos para alcançar as chamadas metas de Aichi. Enquanto os países em desenvolvimento cobram uma duplicação do que é atualmente transferido para eles, os desenvolvidos não concordam com a metodologia do cálculo. Eles questionam: “dobrar em relação a quê?”
A relação entre disponibilidade de recursos financeiros e o atingimento de metas para a biodiversidade não é nada linear. Um levantamento global estimou a necessidade de recursos necessários para cumprir o plano estratégico 2011-2020 numa ordem entre US$150 e US$440 bilhões. Nenhum compromisso foi selado na Índia para suprir essa importante demanda, e, enquanto o sistema de contabilidade continuar tratando tais recursos apenas como custos e não investimentos, tal quantia dificilmente será mobilizada.
Vejam o caso da meta 11 no Brasil, por exemplo. Entre outras coisas a meta estipula que até 2020 pelo menos 10% das áreas marinhas e costeiras terão sido conservadas por meio de sistemas de áreas protegidas. Hoje, no país, temos aproximadamente 3,15% protegidos dessa maneira. Elevar para 10% requer quantidades substantivas de recursos públicos, principalmente relacionados a gastos com pesquisa, delimitação, segurança e gestão. No entanto, se considerarmos os benefícios diretos para a indústria da pesca, gerados pelo manutenção de estoques pesqueiros, e para a indústria do turismo, fundamentais para a população residente no litoral, esse investimento se pagaria em larga medida.
Mensurar, apreciar e transformar em fatos políticos os benefícios diretos obtidos por investimentos em “capital natural” é a chave para a incorporação da biodiversidade nas políticas de desenvolvimento do país. Quanto maior o tempo de implementação, maior será o custo da perda de serviços essenciais para a manutenção da vida nesse planeta.